Comecemos pelo fim: Não basta dar
peixes, é necessário ensinar a pescar.
A Grécia, berço de deuses e
também da democracia, apesar desta última, vem de longa data de uma sucessão de
troca de feudos no poder: seja a família atual no poder -Papandreou ou a
família do governante anterior – Karamanlis. Ambos, off course, educados em
excelentes universidades de políticas e economia neoliberal, tanto americanas
como inglesas. Assim, permanecem os deuses no Olimpo, com a patuléia incensando
os mesmos.
Essa patuléia que hoje, contando
inclusive recém nascidos, acorda todos os dias com uma dívida pública de US$
40.000,00 per capita. Cruzes! Imagine-se você, ao acordar amanhã e descobrir
que deve quarenta mil doletas! Onde você gastou todo este dinheiro? Foi tudo no
ralo da Olimpíada de 2004? Mesmo com eventuais omissões, nossa "Lei de
Responsbilidade Fiscal" de 2000, nos salva de muita coisa (ACM e Michel
Temer se opuseram a mesma na época, por que será?).
Amigos relatam que na terra de
Leônidas, não o diamante negro, mas o comandante espartano, existe uma
infinidade de comércio popular, informais obviamente, traduzindo: sem pagar
impostos, algo assim como várias e gigantes 25 de março em São Paulo ou Rua do
Saara no Rio de Janeiro. Outra: 40% das terras gregas são “ocupações”, leia-se
novamente sem pagar impostos.
A Grécia tem um enorme déficit em
seu balanço de pagamentos, traduzindo: ela compra mais do exterior do que
vende. Paga mais do que arrecada. Mas qual é o produto que a Grécia vende?
Hmmm...A Grécia hoje é uma monocultora de paisagens, ou seja, vive basicamente
de seu turismo. Se já é complicado para um país sobreviver à custa de uma
mercadoria, imagine ser dependente de um serviço. O setor naval grego, antiga
potência, faz tempo naufragou no que tange a tarifação, pois os grandes
armadores gregos (grande palavra da língua portuguesa: armador) continuam
atuando, porém com suas fortunas protegidas em paraísos fiscais, os petroleiros
gregos, segundo lugar em tonelagem no mundo, navegam sob bandeiras de
conveniência, como Libéria e Panamá, assim, a receita dos fretes não chega nem
perto de Atenas.
Assim, ano após ano, para pagar a
diferença entre o gasto e o recebido, a Grécia foi se endividando, chegando
hoje aos 300 bilhões de euros, com enormes gastos públicos (para onde foi esse
dinheiro? Faço novamente a pergunta), baixa receita de impostos e baixa receita
de venda de produtos e serviços.
Passe boa parte de sua vida,
gastando mais que seu salário e verá que logo, logo o banco corta seu cartão e
o limite de seu cheque especial.
Uma pitada no mérito da entrada
apressada da Grécia na zona do euro, com isso passando a ter uma moeda
valorizada e perdendo competitividade na exportação. Se se chegou a esse ponto,
a solução seria a saída, sair do euro e voltar ao dracma, sua antiga moeda, que
então melhoraria sua competitividade externa (lembre: exportar é o que
importa)? Um buraco no dique do euro, ah! Tudo que os americanos sonham para um
retorno triunfal da hegemonia do dólar, pois atrás da Grécia, viria Portugal,
Irlanda, Espanha e quem sabe Itália. Cabe então a Alemanha, França e Inglaterra
bancarem esse prejuízo.
Vamos entrar no economês um
pouco. A teoria das vantagens comparativas de Ricardo, é ABC do liberalismo
econômico (globalização, vá lá...) e está dando isso que lemos desde 2008. Na
realidade (o que eu acredito), o que vigora nestas relações, é uma espécie de
“desvantagens reiterativas”, cuja semente está na especialização. Aconteceram
com o Brasil no café, países árabes com o petróleo, etc., pois é o mercado
internacional é que forma o preço – apesar do caso petróleo, a relativa
influência da OPEP. Leiam o livro do Chang: “Chutando a Escada”.
Talvez um Furtado ou Prebisch
salvassem a Grécia, mas isso interessa aos atuais deuses do Olimpo?
O FMI está vindo com sua velha
cartilha ortodoxa: só a recessão salva! Recessão não se traduz em austeridade e
sim em d-e-s-e-m-p-r-e-g-o, e este é o fator que determina os outros, aprendi
com Lord Keynes, pois será o emprego ( o nível de ) que irá determinar a produção
(oferta), o consumo (demanda), a quantidade de moeda e por fim a taxa de juros.
Próximas postagens, sobre a
industrialização do Brasil, relatam nosso caminho, com Juscelino e os
militares.
Não poderia terminar, sem o dito
de Heilbroner; “Crise não é uma falha do capitalismo e sim a forma pelo qual
ele funciona”.
Bom dia dos Mortos.
