O objetivo deste artigo é
demonstrar que mesmo no atual cenário de grandes incertezas, ocasionadas pela
crise que abala a economia mundial, existem boas perspectivas para a economia
brasileira nos próximos anos.
Em meio a um período de forte
turbulência na economia mundial, com a Crise da União Europeia, o Brasil vem
contrariando as expectativas de muitos analistas internacionais, que
acreditavam em um desastre nas finanças públicas brasileiras no inicio da crise
em 2007, quando começaram a aparecer os primeiros indícios do colapso do subprime nos Estados Unidos.
Em meados de 2007, analistas do
banco Goldman Sachs apostavam em um aumento da dívida pública brasileira para
mais de 65% do PIB, entretanto o governo federal conseguiu implantar uma
política de estímulos à economia, mantendo o nível de emprego e renda,
concomitantemente, com a redução da dívida pública em relação ao PIB. Em 2006,
a dívida líquida do setor público era de 47,3% em relação ao PIB, a previsão
para 2012 é que chegue a 35% do PIB.
Outro importante ponto foi a
redução da taxa SELIC, que possibilitou a manutenção da atividade econômica
nesses últimos anos de instabilidade. Contrariando as argumentações de alguns
setores de que essa atitude poderia levar ao descontrole da inflação, o Banco
Central reduziu a SELIC em 9,75 pontos percentuais, sem impacto no índice de
preços. Em janeiro de 2006 a taxa básica de juros estava em 17,25% ao ano, em
agosto de 2012 chegou ao atual patamar de 7,5% a.a.
Mesmo durante um período de
grandes instabilidades no cenário mundial houve diminuição no nível de
desemprego. Em 2007, a taxa de desemprego aberto chegou a 10,1%, atualmente a
estamos em 5,8%.
Sobre o Balanço de Pagamentos (BP), em 2007 o resultado do BP
foi de U$ 87,4 bilhões, sofrendo uma drástica queda no ano de 2008, reflexos da
crise econômica mundial do subprime, atingindo o saldo de U$ 29,5 bilhões. No ano seguinte, 2009, o resultado foi
muito expressivo, em 46,6 bilhões de dólares. Devemos notar a rápida
recuperação do saldo global no BP, impulsionado pela volta dos fluxos de
capitais internacionais, sobretudo na Conta Financeira, que demonstram uma
alteração no comportamento do capital externo em relação ao país.
Em tempos passados a recuperação do saldo do BP não se dava
de maneira tão rápida, o que mostra uma maior confiança em relação à economia
brasileira. Entretanto, algumas medidas devem ser tomadas em relação ao nosso
Balanço de Pagamentos, ações para diminuir o grande déficit nas Transações
Correntes, ocasionado pela deterioração da conta de Serviços e Rendas, têm de
ser tomadas com urgência.
O nível de reservas internacionais terminou o ano de 2011 em
U$ 350 bilhões, as maiores já constatadas no Brasil, sendo a sétima maior
reservas de dólares no mundo, não sendo mais um ponto de vulnerabilidade, como
foi em um passado próximo.
Mas um dos índices que mais chama
a atenção foi o Resultado Fiscal do Setor Público em relação ao PIB. Em 2003
este índice estava em -5,2% e a previsão para 2012 é que fique em -1,4. Quando
mais próxima de zero, menor será a Necessidade de Financiamento do Setor
Público, isto é, menor será a necessidade do setor público de emitir títulos da
dívida para financiar o déficit.
O que gera grande ânimo é que se
o país seguir na tendência da melhora do Resultado Fiscal e queda da Dívida
Pública poderá, assim, diminuir o foco na realização do Superávit Primário. Assim
sendo, poderemos ter mais recursos livres para o investimento em
infraestrutura, educação e saúde pública, variáveis estas que tiveram a
prioridade colocada em segundo plano desde a reforma neoliberal proposta pelo
Consenso de Washington no começo dos anos 90, que minimizou o investimento
público e marginalizou o gasto social.
Se as expectativas em relação ao
cenário econômico mundial melhorarem e os índices colocados ao longo do texto
seguirem a tendência apontada, acarretará em um aumento no índice de confiança
dos empresários que retomarão o investimento, dando, assim, mais forças às
ações governamentais tomadas até o momento. Poderemos voltar a prestigiar bons
índices de crescimento econômico, como tivemos até o ano de 2008. Entretanto,
dessa vez teremos um grande diferencial: a retomada do crescimento, com o
Estado tendo espaço em suas finanças para retomar o investimento em educação,
saúde e infraestrutura, o que seria uma grande alteração na política social e
econômica dos últimos 25 anos.
Frederico Matias Bacic
