De acordo com a teoria econômica
neoclássica da intermediação financeira, investimento e poupança são
determinados de maneira simultânea, a taxa de juros é o preço que equaliza a
oferta (poupança) e a demanda (investimento). Para que exista o equilíbrio
macroeconômico, apenas poderá ocorrer um aumento no investimento se,
concomitantemente, ocorrer um aumento nos níveis de poupança. Caso contrário
poderia se formar um processo inflacionário cumulativo, que acarretaria em
desequilíbrio macroeconômico. Assim sendo, nesta teoria, no longo prazo a
poupança é o grande empecilho à expansão do investimento[1].
Entretanto Keynes demonstrou, como
veremos de forma detalhada mais a frente, que o investimento é na verdade a causa
última na determinação da renda e da poupança, essa reversão intelectual perante
a teoria ortodoxa é consequência do Principio
de Demanda Efetiva desenvolvimento pelo autor. Nesse modelo a taxa de juros
aparece como um fenômeno estritamente monetário, determinado pela preferência
pela liquidez (demanda por moeda) e pela oferta de moeda não podendo ser
considerada, portanto, como uma mera variável de ajuste na relação entre
investimento e poupança. É a preferência
pela liquidez dos bancos e dos aplicadores em títulos que determina o volume e
os prazos do financiamento do investimento.
Dentro desta teoria são os bancos, e
não os poupadores, peças fundamentais na determinação de fontes de financiamento
do investimento, em outras palavras são eles responsáveis pelo aumento no nível
da atividade econômica. Ainda segundo Keynes a poupança é um resultado que
ocorre após o processo de investimento. E
a alocação das poupanças geradas pelo processo de multiplicação da renda tem
importância no processo de administração dos empecilhos gerados pelo
descasamento de vencimentos durante o crescimento econômico[2].
Essa teoria, escrita por John M. Keynes, acabou ficando conhecida como Circuito
Financiamento-Investimento-Poupança-Funding.
Para os economistas neoclássicos a
baixa poupança no passado é ocasionada por um alto nível de consumo ocorrido,
isso acarretaria em um baixo investimento e, consequentemente, uma queda nos
níveis de emprego e renda. A teoria apresentada por Keynes impugnou a ideia de
que "a soma das partes tem que ser igual ao todo" chamando-o de
"falácia da composição" a visão keynesiana, apresenta a ideia do paradoxo
da parcimônia. De acordo com essa abordagem se, por hipótese, o investimento for uma função direta e
positiva da renda, um aumento no desejo de poupar por parte do público acaba
por reduzir o nível de renda de equilíbrio e, consequentemente, reduz a
poupança abaixo do nível que vigorava anteriormente[3].
Keynes deixa claro que a poupança e o
investimento possuem determinantes diferentes. Existe uma independência entre a
decisão de investir e o nível de poupança realizado no passado. A decisão de
investimento é função da Eficiência Marginal do Capital e das expectativas dos
capitalistas perante o futuro e da taxa de juros. Já a poupança não
apresentaria uma relação direta com a taxa de juros, esta é derivada do
processo multiplicador gerado pelo investimento. Sendo assim o investimento é o
determinador da poupança.
Com a existência do financiamento
(nomeado por Keynes como motivo Finance), o investimento é concretizado, com o
efeito multiplicador, é realizada a poupança agregada. Entretanto para que o
circuito financiamento-investimento-poupança-funding seja realizado é
necessária a existência de fundos para “consolidação
financeira dos passivos das empresas endividadas[4]”
(nomeado por Keynes como Funding). Sendo assim, é preciso a existência de
fundos que gerem a possibilidade de as empresas reembolsarem suas divídas aos
bancos credores, com a venda de títulos de longo prazo, ou direito à
propriedade, realizando um ajuste temporal que permita a maturação do
investimento. A seguir modelo ilustrativo do circuito apresentado[5]:
O modelo apresentado pelo pensamento Keynesiano é uma grande
revolução para o pensamento econômico, pois mostra que para que ocorra o
investimento, acarretando em um incremento nos níveis de renda e emprego e,
consequentemente, desenvolvimento econômico, é necessária a criação de Funding,
contrário do que prega o Mainstream Econômico onde a poupança é o fator
determinante para o desenvolvimento e crescimento de uma economia.
Sendo assim, acredito que essa teoria consegue reerguer
umas das escalas que, como diria o economista Ha-Joon Chang, haviam sido
chutadas para bloquear a possiblidade do desenvolvimento econômico das
economias periféricas pelo pensamento dominante neoliberal, ensinados na
maioria das instiuições de ensino superior e reproduzido pelos meios de
comunicação.
Frederico Matias Bacic
Bibliografia
Blog Prof. FERNANDO NOGUEIRA COSTA – Aulas e material disponibilizado
CARVALHO,
F; SICSÚ, J; SOUZA, F; RODRIGO DE PAULA, L; STUART, R – Economia Financeira e Monetária – 2ª Edição
COSTA,
FERNANDO NOGUEIRA – Decisão – Finance
– Investimento – Renda – Aplicações – Funding
[1]
Essa teoria é conhecida como “hipótese da
poupança prévia”
[2] CARVALHO,
F; SICSÚ, J; SOUZA, F; RODRIGO DE PAULA, L; STUART, R – Economia Financeira e
Monetária – 2ª Edição
[3] A
Macroeconomia Keynesiana UFBA
[4] LOBO, BRENO SANTANA - Teoria dos Fundos
Emprestáveis X Circuito Financiamento-Investimento-Poupança-Funding: uma
avaliação empírica para o Brasil. Página 5.
[5] Retirado de matérias de aulas do Professor Fernando
Nogueira Costa

