Na teoria monetária elaborada por Keynes,
diferente do que era difundido pela Teoria Quantitativa da Moeda, não existe a
possibilidade de prever posições de equilíbrio, tanto no curto, quanto no longo
prazo, sem se considerar o papel da moeda e da política monetária. Para Keynes
a moeda não é apenas um meio de troca, mas também uma reserva de valor, por ter
a qualidade de conduzir riqueza ao longo do tempo. Sendo assim a moeda é mais
do que um mero meio de troca. Para Keynes a moeda apresenta um papel duplo de
meio de pagamento e forma de riqueza: “Seu
retorno vem na forma de um prêmio de liquidez em vez de uma compensação
pecuniária, já que possui o maior prêmio de liquidez entre os ativos[1]”. Um dos grandes pontos da teoria Keynesiana é
mostrar que, em uma economia monetária, a moeda torna-se um ativo.
A capacidade da moeda de gerar liquidez funciona
como um porto seguro aos agentes econômicos diante de incertezas que tornam nebulosas
previsões sobre o futuro. Sendo assim quanto maior for a incerteza maior será a
retenção de moeda por parte dos agentes. Vale resaltar que a incerteza colocada
por Keynes são fenômenos econômicos para os quais não existiriam uma base de
dados, sendo assim, ficando impossível a realização de cálculos de
probabilísticos de risco.
Keynes demonstra, em sua teoria, o fato de a
moeda não ser um mero facilitador de trocas, pois ela afetas as decisões dos
agentes. Caso o agente utilize parte da renda para comprar ”riqueza não
reprodutível”, como moeda e outros ativos líquidos, pode acarretar em problemas
na demanda efetiva da economia. Sendo assim Keynes demonstra a não neutralidade
da moeda e que a busca por moeda e ativos não reprodutíveis são formas de
acumulação de riqueza perante à acumulação de bens de capital. Sendo assim é
totalmente racional que em momentos de incerteza os agentes busquem reter
moeda.
Para Keynes a Taxa de Juros é um fator
responsável pelo nível da preferência pela liquidez dentro de uma economia.
De acordo com sua teoria a taxa de juros é um “prêmio” por abrir mão da riqueza
em forma monetária, é a recompensa, por não entesourar. “ (...) a taxa de juros é o que se ganha não por que se poupa, mas
porque se aplica esta poupança em outros ativos que não a moeda[2]”
A
preferência pela liquidez determina a quantidade de moeda que o público deseja
reter de acordo com o valor da taxa de juros: “Sendo a taxa de juros, a qualquer momento, a recompensa da renúncia à
liquidez, é uma medida de relutância do que possuem dinheiro alienar o seu
direito de dispor do mesmo. A taxa de juros não é o “preço” que equilibra a
demanda de recursos para investir e a propensão de abster-se do consumo
imediato. É o “preço” mediante o qual o desejo de manter a riqueza em forma
líquida se concilia com a quantidade de moeda disponível. Isso implica que, se
a taxa de juros fosse menor, isto é, se a recompensa da renúncia à liquidez se
reduzisse, o montante agregado de moeda que o público desejaria conservar
excederia a oferta disponível e que, se a taxa de juros se elevasse, haveria um
excedente de moeda que ninguém estaria disposto a reter. Se esta explicação for
correta, a quantidade de moeda é outro fator que, aliado à preferência pela
liquidez, determina a taxa corrente de juros em certas circunstâncias[3]”.
Um ponto
importante na teoria de Keynes é o fato de que quanto maior for a demanda por
moeda, isto é, quanto maior for a preferência pela liquidez, menor será a
demanda pelos bens e serviços, menor será a demanda efetiva. Isso por sua vez
acaba por acarretar uma queda no nível de emprego da economia. Como base nisso surge um ideal de política
econômica no modelo keynesiano. Em situações de crises caberia ao Estado
diminuir as incertezas que rodam a economia, parte desse movimento poderia ser
feito com políticas fiscais expansionistas, com a finalidade de aumentar a
demanda efetiva resultando no crescimento do investimento produtivo.
Outro ponto de
fundamental importância é que além de fomentar a economia, por meio de
políticas fiscais expansionistas, cabe realizar uma Política Monetária de
baixos juros. De acordo com Keynes antes de tomar uma decisão de investimento,
o empresário realiza uma comparação entre a taxa de juros e a Eficácia Marginal
do Capital (o que seria como a taxa de retorno sobre o capital investido).
Quando a taxa de juros de títulos públicos são superiores ao rendimento
esperado com a aquisição de bens de capital, os detentores dos recursos
monetários irão optar pela compra de títulos, sendo assim não serão realizados
investimentos produtivos. Um bem de Capital apenas será adquirido quando o
rendimento esperado deste bem for superior à taxa de juros, de forma que sua iliquidez seja compensada pela
Eficácia Marginal do Capital.
Keynes demonstra
que em situações de grande desconfiança a política monetária por si só não é
capaz de colocar a economia novamente nos “trilhos”. Baixar os juros em uma
situação de incerteza poderá apenas acarretar em uma situação de armadilha da
liquidez, isto é, “os agentes acreditam
que a aquisição de títulos acarretará uma perda, e por isso mantêm o dinheiro
na forma líquida. Em consequência, a expansão monetária apenas provocaria o
incremento dos saldos monetários ociosos[4]”,
não produzindo nenhum fomento econômico, devido à preferência dos agentes pela
liquidez. Com um incremento na política fiscal, somadas a uma política
monetária expansionista o crescimento econômico seria retomado, pois tornaria a
Eficácia Marginal do Capital mais atrativa perante os títulos públicos e o
investimento estatal aumentaria a demanda efetiva reduzindo o grau de incerteza
dos agentes econômicos.
Frederico Matias Bacic
[1] Carvalho, Fernando J. Cardim de. Economia
Monetária e Financeira. Capítulo 4, página 46. 2ª Edição
[2] Carvalho, Fernando J. Cardim de. Economia
Monetária e Financeira. Capítulo 4, página 47. 2ª Edição
[3]
Keynes, John M. Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda- Capítulo 13,
página 137;
[4]
Sandroni, Paulo. Novíssimo dicionário de Economia – página 350, 3ª edição.
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