Na maioria das ocasiões, a teoria econômica
sozinha é incapaz ou insuficiente para explicar as medidas adotadas por um
governo. Ao tentar compreender as funções e a política econômica de um governo,
é necessário incluir outras variáveis como instituições, história, regulação,
cultura e, principalmente, política.
Talvez
a idéia colocada acima fique mais clara com o uso de dois exemplos.
É
difícil acreditar que, no início da década de 1980, Margareth Thatcher tenha
sido completamente convencida pelos argumentos elaborados por economistas
neo-clássicos para por em prática seu plano de privatização em larga escala.
Por outro lado, é possível imaginar que a venda de ativos do Estado tiveram
como motivação a desarticulação política dos trabalhadores que se aglomeravam
nessas industrias. Afinal, a maioria deles não faziam parte dos eleitores do
partido de Thatcher.
O
mesmo tipo de argumento é também válido para as privatizações no Brasil. A
grande dificuldade está em abrir esta caixa preta que é o governo e determinar
o peso de cada uma das variáveis em jogo. O ponto principal aqui, entretanto, é
iluminar o fato de que decisões governamentais raramente são baseadas apenas em
uma variável, e mais raro ainda é quando esta variável é a teoria econômica
(seja ela ortodoxa ou heterodoxa).
O
segundo exemplo trata do Estado desenvolvimentista, principalmente em sua
versão japonesa.
Nas
décadas que seguiram a Segunda Grande Guerra, o Japão surpreendeu o mundo com
uma fantástica recuperação. Grande parte da literatura sobre o período destaca
duas fontes de desenvolvimento econômico:
o auxílio norte americano e as funções desempenhadas pelo MITI (Em
português: Ministério do comércio exterior e indústria) ao coordenar o
crescimento da indústria e a concorrência.
O
governo que comandou o Japão em seu período desenvolvimentista é, geralmente,
caracterizado como um Estado comandado por burocratas, onde os governantes
eleitos cumpriam o mero papel de válvula de escape em caso de escândalos ou
políticas mal elaboradas. De acordo com grande parte da literatura disponível,
esse sistema foi capaz de isolar os burocratas das pressões populares e criar
um modelo de desenvolvimento para o pais. Tudo isso ocorreu, é claro, com o
apoio do todo poderoso governo americano do pós guerra.
O
problema, neste caso, é que a maioria esmagadora dos estudos definem o governo
japonês como a variável independente (e exógena) da equação do crescimento. Ou
seja, com o governo desenvolvimentista há crescimento econômico e sem ele o
país fica estagnado (ou cresce menos). Este tipo de análise pode funcionar
perfeitamente para o caso japonês mas perde o valor em uma comparação
internacional, afinal, o governo japonês do pós guerra é um fenômeno
determinado no tempo e espaço.
Uma
análise mais detalhada do caso japonês revela algumas instituições e
peculiaridades da sociedade que, necessariamente, precisam ser inclusos na
análise do governo desenvolvimentista. Não é o objetivo deste artigo discutir
essas peculiaridades, porém, apenas para ilustrar o caso, cabe citar o conceito
"excesso de concorrência" que, apesar de bizarro aos olhos de
economistas ocidentais, cumpriu um papel fundamental na organização da economia
japonesa. Sem a inclusão desses fatores, o estudo do governo japonês torna-se
anacrônico.
O caso
japonês demonstra como instituições são importantes na análise econômica e,
ainda mais relevante, que instituições são construídas a partir de um processo
histórico. A simples transferencia de uma política econômica “eficaz" de
um pais para outro não significa sucesso.
Em
suma, ao analisar a política econômica de um determinado governo, economistas
devem manter em mente que as lições ensinadas pelos manuais de economia possuem
um peso relativamente pequeno na equação. E, portanto, para melhor compreender
o papel do governo na economia, é preciso expandir os horizontes da análise.
