Por todo o país, há debate sobre Belo Monte. A “maioria silenciosa” –
a maior parcela da sociedade, que não tem tempo para cuidar de questões
mais amplas, e em geral só se manifesta quando se vê muito agredida
pela minoria ativa – começa a reagir. Entidades com sede em outros
países, como WWF e Greenpeace, estão a todo pano, contando com apoio de
gente que brilha na mídia, mas não tem bons argumentos. No mundo, as
maiores fontes de energia são poluidoras e não renováveis: óleo, gás e
carvão. No Brasil e em poucos países, tem-se a dádiva da fonte
hidráulica: renovável, barata e não poluente.
Há dias, veio a público que as contas de energia seriam oneradas pelo
apoio à fonte eólica – e igualmente a base solar precisa de subsídio.
Um dia, vento e sol e talvez o ar – hidrogênio – poderão ser fonte limpa
e viável, mas isso ainda não ocorre. Como todos – sejam ecologistas ou
desenvolvimentistas – precisam de energia para as tarefas do dia a dia,
cada país tem de tomar sua decisão. A China usa o carvão, a França, o
átomo, e os Estados Unidos lutam para sair da dependência do petróleo –
e, recentemente, descobriram um “pré-sal” de gás em seu território.
Certamente vão usar o gás, queiram ou não grupos ecológicos de lá.
Delfim Netto não é um santo. Como czar da economia foi acusado até de
mexer em índices de inflação. Mas, em artigo publicado em Carta
Capital, ele creditou a atual campanha a interesses estrangeiros. Após
citar que a água pode valer mais que ouro e petróleo, Delfim afirma que,
respeitando o ambiente e as populações locais – inclusive indígenas – o
país não pode deixar de aproveitar seus rios. Declara: “A conclusão,
óbvia, é que pretendem mostrar que a Amazônia precisa ser
internacionalizada, para evitar que utilizemos os cursos de água daquela
bacia hidrográfica para produzir energia e proporcionar o
desenvolvimento daquela região em nosso benefício exclusivo”.
E acrescentou: “Tivemos a demonstração de como a pregação, mesmo
infantil, pode influenciar burocratas mal informados de organismos
internacionais: uma obscura e inoperante comissão de direitos humanos da
OEA alinhou-se às teses de outras tantas obscuras ONGs, pedindo a
suspensão da construção da usina de Belo Monte, no Rio Xingu”.
E conclui Delfim: “O que as ONGs (de longa data), agora apoiadas pela
sub-burocracia da OEA, pretendem bloquear, em realidade, não é a obra
em si, mas a condição brasileira de produzir mais energia limpa para
prosseguir em seu projeto de desenvolvimento sustentável, inclusive na
Região Amazônica. Significa demonstrar a capacidade nacional de
conservar, administrar e utilizar as riquezas de um território que detém
11% de toda a água doce do globo, onde correm 12 mil rios que respondem
por 16% de toda a água enviada ao marpelos rios do planeta”.
É isso mesmo. Delfim lembra que, levando em conta os rios, mais
depósitos subterrâneos – como o aquífero Guarani – cada brasileiro tem
uma quantidade fabulosa de água a seu dispor, 17 vezes mais do que a ONU
considera a média confortável de consumo. Há uma guerra das ONGs
estrangeiras contra o “pré-sal” renovável do Brasil: o bom uso da água.
