A moeda chinesa, o Yuan ou Renminbi,
está pouco a pouco subindo os degraus
para se tornar uma moeda totalmente internacionalizada. Para atingir
este status de moeda internacional, o Yuan deve cumprir as três funções da
moeda em escala global, isto é, funcionar como meio de troca, unidade de medida
e reserva de valor para agentes localizados em qualquer país do mundo, assim
como faz, atualmente, o Dólar americano. No entanto, o caminho é permeado de
obstáculos dentro e fora do país.
As notícias mais recentes indicam o
crescente papel do Yuan na economia mundial. O volume de títulos de companhias
privadas não financeiras emitidos em Yuan ultrapassou o volume dos mesmos
títulos emitidos em Euro, atingindo o equivalente a U$ 31 bilhões. Além disso,
o governo chinês está em um processo avançado de negociação para criar um
centro offshore de transações em Yuan na cidade de Londres. Por fim, a moeda
chinesa já desempenha um papel fundamental nas transações comerciais entre a
China e alguns países do Sudeste Asiático e África.
Nenhum destes movimentos, no entanto,
vem ocorrendo por acaso ou como mera conseqüência do crescimento da importância
da economia chinesa no mundo. Pela contrário, a estratégia de expandir as
funções do Yuan para todo o mundo foi determinada pelo Plano Qüinqüenal
aprovado no início do ano e vem tomando força devido a crise que afeta
(principalmente) as economias centrais. Em artigo publicado no Project
Syndicate (www.projectsyndicate.org) Yu
Yongding lista alguns dos benefícios de estar no topo da pirâmide de moedas:
1) Eliminação do risco cambial para as
empresas
2) Maior eficiência para as
instituições financeiras
3) Redução do custo de transações no
comércio internacional
4) Menor dependência de títulos
emitidos pelos EUA
5) Maior margem de manobra para as
políticas econômicas
Dentre os pontos levantados por Yu
Yongding, 4) e 5) são de extrema importância. Atualmente, as reservas de moeda
estrangeira da China eqüivalem a U$ 3 trilhões. A maior parte deste monstruoso
valor é composto por títulos denominados em Dólar, o que coloca o país em uma
posição bastante delicada em caso de fortes desvalorização da moeda americana.
A maior margem de manobra a que Yu
Yongding refere-se foi utilizada ao extremo pelos EUA desde que sua moeda
substituiu o ouro como regulador do comércio internacional. Recentemente, esse
poder extra oferecido ao detentor da moeda internacional foi utilizado com o
codinome “quantitative easing”.
Além disso, possuir uma moeda mais
forte internacionalmente (não necessariamente uma que exerça as três funções
mencionadas anteriormente) significa poder emitir títulos em sua própria moeda
e evitar o chamado “currency mismatch”.
Entretanto, ainda falta muito para a
moeda chinesa chegar ao patamar do Dólar ou até mesmo o Euro. E o maior dos
desafios parece ser o controle de capitais utilizado, sabiamente, pela China
para controlar a entrada de investimentos de curto prazo.
A abertura descuidada da conta de
capitais poderia trazer graves conseqüências para o país. Lembre-se que o Yuan,
devido a agressiva política comercial adotada, é mantido em um patamar abaixo
do que seria normal de acordo com as forças do mercado, consequentemente, a
abertura descuidada poderia provocar uma verdadeira corrida ao Yuan na
expectativa da valorização da moeda. Os efeitos deste tipo de comportamento de
manada são bastante conhecidos, especialmente pelos países asiáticos que
sofreram com a crise de 1997.
Em suma, a internacionalização da
moeda oferece uma gama de benefícios a China. No entanto, como conclui Yu
Yongding, os fatores da internacionalização devem ser intrínsecos a economia e
não apenas especulativos. Consequentemente, o caminho e a velocidade do
movimento de globalização da moeda podem ser diferentes do que esperam os
investidores (e especuladores).
João Ricardo Trevisan de Souza
