Desde a primeira vez que vim para a China em 2008, uma das perguntas que
mais escuto de brasileiros é “tem praia na China?”. A resposta para a pergunta
é “sim”. Entretanto, o litoral não esta nem perto de ser uma grande atração do
país, seja para os turistas chineses ou estrangeiros.
Por ano, a China recebe cerca de 56 milhões de turistas estrangeiros que
gastam no país a quantia de 46 bilhões de dólares. A grande parte desses
visitantes gasta seus dólares em pontos turísticos mundialmente conhecidos como
a Grande Muralha da China, os Guerreiros de Terra-cota, a Cidade Proibida,
Xangai, Tibete, etc. Outros optam por locais menos conhecidos no ocidente como
Guilin, Jiuzhaigou, Emeishan, entre outros.
Além dessa massa de turistas internacionais, que leva a China a ser um
dos países mais visitados do mundo, o turismo interno movimenta uma indústria
avaliada em 777 bilhões de Yuan. Grande parte desses viajantes opta por
utilizar a extensa malha ferroviária chinesa que cobre praticamente todo o
território (chegando a pontos como Lhasa-Tibete e Urunqi-Xinjiang) e oferece
transporte barato e seguro. Durante o mais tradicional dos feriados chineses, o
ano novo chinês, as estimativas do Departamento de Ferrovias chinês, neste ano,
foi de transportar mais de 230 milhões de pessoas, a maioria delas voltando
para as suas terras natais.
Voltando a pergunta título, as praias chinesas são, com exceção da
ilha/província Hainan, uma espécie de lado B do turismo. Elas estão espalhadas pela
costa desde Qingdao até o Cantão e Hong Kong. Em sua maioria, essas praias são
como nós estamos acostumados a ver nas fotos, abarrotadas de gente. No entanto,
existem várias exceções, e se o turista estiver disposto a ir um pouco mais
longe das grandes cidades, há boas opções. A dica, portanto, é fugir dos pontos
mais conhecidos, a não ser é claro, que a intenção seja justamente sentir na
pele a experiência de viver num país de 1,3 bilhões de pessoas.
Os costumes na praia também são totalmente diferentes dos brasileiros.
Começando pela vestimenta: enquanto os homens vestem a tradicional sunga, as
mulheres preferem esconder o corpo usando uma espécie de saia ou, até mesmo, um
tipo de vestido. Como ir a praia não é parte da vida chinesa, eles não possuem
os tradicionais apetrechos e tudo esta a venda ou locação: guarda-sol, bolas,
esteiras, pranchas, bóias e etc. O último é lugar comum nas praias chinesas, em
alguns momentos, a impressão é que há
mais bóias do que pessoas na água. Por fim, com a alegação de que são áreas de
proteção natural, algumas dessas praias são pagas.
Há também algumas atrações turísticas complemente inusitadas e quase
desconhecidas por estrangeiros e até mesmo chineses. Dois exemplos são uma
antiga usina nuclear localizada dentro da maior caverna artificial do mundo em
Chongqing e a cidade subterrânea em Pequim.
A antiga usina nuclear, antes um projeto secreto do exército, teve
início em 1966 e término em 1984. A caverna de 104 mil metros quadrados foi
construída com a ajuda de mais de 60.000 homens e foi projetada para suportar
os impactos de um terremoto de 8 graus na escala Richter. Segundo relatos
divulgados pelo jornal China Daily, o salão principal tem pé-direito de 80
metros e é tão grande quanto um estádio de futebol, além disso, a área conta
com um antigo reator nuclear e computadores de algumas décadas atrás.
A cidade subterrânea de Pequim, por sua vez, foi construída no período
da Revolução Cultural (1966-1978) pois havia o temor de uma possível guerra
nuclear entre China e União Soviética. Diz a lenda que mais de 300 mil
voluntários uniram forças para a construção do abrigo e, como não poderia
deixar de ser, este labirinto de túneis e salas foi construída no estilo
Revolução Cultural: na unha! Relatos dizem que a cidade abriga não apenas
dormitórios, mas também, escolas, oficinas, locais para criação de fungos,
cabeleireiro, e tudo mais que uma cidade normal tem.
Não existem informações oficiais sobre a extensão da cidade subterrânea
ou sua exata localização, mas acredita-se que ela ocupe uma área de 85
quilômetros quadrados e seja grande o suficiente para abrigar 6 milhões de
pessoas (pelo menos essa era a intenção no momento da criação).
Infelizmente, desde 2008, a cidade subterrânea esta fechada para turistas.
Ironicamente, a alegação é que a área não é segura o suficiente para
receber visitantes.
Em suma, as opções são inúmeras. Ademais, há um esforço das várias
esferas do governo para tornar a China um país mais “acessível” ao turismo
internacional. Este movimento inclui treinamento de pessoal, investimento em
infra-estrutura, conservação de áreas históricas e, é claro, propaganda.
João Ricardo Trevisan de Souza
