segunda-feira, 25 de abril de 2011

Reunião BRICS: O futuro do grupo parece estar cada vez mais nas mãos do país mais importante econômicamente.

           
          Na semana passada, foi realizada na província  de Hainan a reunião dos países do BRICS. A primeira novidade da reunião foi a inclusão da África do Sul no grupo. Os motivos pela inclusão do mais dinâmico dentre os países africanos no grupo, acredito eu, deve-se mais a fatores políticos e diplomáticos do que as características da economia sul africana.  De qualquer maneira, a reunião levou a avanços nas negociações entre os países e deixou claro o peso de cada uma das nações na hora de tomar as decisões.
            Alguns frutos da reunião, embora relevantes, são questões bastante pontuais. Por exemplo, a empresa de telecomunicações Huawei prometeu investir U$350 milhões na região de Campinas. Da mesma maneira a Foxxcon também se comprometeu em expandir a sua capacidade no país (esse promessa, no entanto, foi recebida com bastante ceticismo pelos brasileiros devido a declarações feita pelo CEO da companhia no ano passado). Além disso, a Embraer recebeu a promessa de que a complicada situação de sua planta na China também será resolvida.

           Por outro lado, a reunião também tratou de questões mais amplas e que poderão gerar benefícios no futuro. O documento (denominado Declaração de Sanya) divulgado após a reunião deixou claro a vontade das nações em desenvolvimento de participar mais ativamente nas intituições internacionais. Além disso, em uma medida lançada para tentar diminuir a dependência do Dollar, os bancos de desenvolvimento dos diferentes países fecharam acordos para fornecer linhas de empréstimo em moeda local.
            Como era esperado, a reunião não trouxe grandes novidades com relação ao problema da primarização das exportações brasileiras. A aproximação com a China esta levando, cada vez mais, a dependência das commodities como fonte de recursos. Um estudo divulgado recentemente pelo Ipea evidencia essa tendência. Abaixo  selecionei alguns gráficos elaborado pelo instituto, não há necessidade de explicações sobre cada um deles:
(clique para ampliar)





Resumindo, a China tornou-se em alguns anos o principal destino das exportações brasileiras. E o Brasil passou a depender de minério de ferro e soja para manter sua balança de comércio equilibrada.
            Por fim, a “Declaração de Sanya” deixou claro o peso da China dentro do grupo denominado BRICS. A edição do documento está bastante similar a edição dos documentos divulgados pelo governo Chinês.  Como bem destacou o jornal “Valor Econômico”, as palavras harmonia e desenvolvimento científico, que aparecem frequentemente no documento, aparecem também com muita frequência nos documentos do governo Chinês. De acordo com a Declaração, “o século XXI deve ser de paz, harmonia, cooperação e desenvolvimento científico".
            Essa centralização ao redor da China é, de certa forma, natural e esperada. Ela é efetivamente o único link entre todos os países do grupo. E se não fosse o esforço de Pequim, provavelmente a reunião não teria ocorrido. De fato, os cinco países que formam o grupo possuem diversas diferenças e divergências. Dentre as divergências, destacam-se disputas territorias entre China e Índia, o apoio militar da China ao Paquistão, e a vontade do Brasil em ser membro do Conselho de Segurança da ONU (que poderia diluir o poder de China e Rússia).
            O futuro do grupo parece estar cada vez mais nas mãos do país mais importante econômicamente. Ao Brasil, cabe buscar as oportunidades abertas pelo grupo e diversificar as relações em busca de uma relação comercial mais equilibrada.
João Ricardo Trevisan de Souza
Fontes:
IPEA, 2011 - AS RELAÇÕES BILATERAIS BRASIL – CHINA           Disponível em: http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/comunicado/110408_estudochinaipeamre.pdf
Declaração de Sanya – Disponível em: http://news.xinhuanet.com/english2010/china/2011-04/14/c_13829453.htm
BRICS in search of foundation – The economist 16/04/2011
Valor Econômico - Os Brics sob o domínio da China 15/04/2011