Enviado por luisnassif, ter, 12/04/2011 - 09:48
Um dos maiores absurdos do discurso mercadista é a afirmação de que câmbio não tem nenhuma influência sobre a competitividade das indústrias ou a competitividade sistêmica do país.
Nos seus modelitos econômicos conseguiram abolir até o sistema de preços, uma instituição mais antiga do que a própria ciência econômica.
Em geral o mercado recorre a falácias complexas para criar conclusões falsas. No caso do câmbio conseguiram simplificar até o engodo. O argumento é este:
A China (e outros países desenvolvidos) possuem fábricas mais avançadas que as brasileiras. Se o real se desvalorizar, permanecerá a defasagem tecnológica. Logo, de nada adiantarão preços mais baixos.
Não há nenhuma lógica nessas posições. É um besteirol fantástico, que aposta na incapacidade da velha mídia de analisar criticamente essas asneiras. É o mesmo que dizer que haverá o mesmo volume de vendas de determinado produto se seu preço for de R$ 1.000,00 ou de R$ 500,00.
Não existe “O” produto padrão para cada setor do mercado. Existem linhas de produto, dos menos aos mais sofisticados, dos mais baratos aos mais caros, seja produtos de baixa, média ou alta tecnologia.
Em 2003, quando o real se tornou bastante desvalorizado, em um segmento de média tecnologia – equipamentos farmacêuticos -, pequenos fabricantes da região de Campinas conseguiram desbancar grandes fabricantes coreanos em mercados específicos, menos sofisticados. Não iam bater de frente com uma Toshiba, uma Phillips em seus respectivos mercados. Mas galgaram bons degraus e conseguiram mercado de produtos de média tecnologia fornecendo genéricos de menor qualidade, mas com muito menor preço.
Se o real não tivesse voltado a se valorizar, depois das primeiras encomendas esses pequenos fabricantes teriam ganhado musculatura, investido no aprimoramento tecnológico e passado a disputar degraus acima na escala tecnológica.
Foi assim com todos os milagres econômicos do século 20. Mesmo com países com tradição tecnológica – como a Alemanha no pós-guerra – que tiveram suas economias destruídas. Mesmo com o conhecimento preservado, a Alemanha precisou de um câmbio competitivo para se reerguer.
Da porteira para dentro, há muitos setores da economia brasileira que disputam pau a pau com empresas chinesas no quesito competitividade e, principalmente, qualidade. Analisa-se essa competitividade comparando planta industrial e produção por trabalhador.
O problema é da porteira para fora. Aí entra a logística, os impostos, a burocracia. Tudo isso pode ser convertido em uma única medida: preço.
Exemplo simples:
- Produto custa 100 aqui e lá.
- Com custos fiscais, digamos, 145 aqui, 115 lá.
- Com custo de logística mais custos fiscais, 166 aqui, 120 lá.
- Com custos de logística, mais custos fiscais, mais custos trabalhistas (o que a folha custa e não entra no bolso do trabalhador), 190 aqui, 128 lá.
Enquanto não se reduzem esses custos, a única maneira de dar equidade a esse jogo é com o câmbio. Câmbio bate direto no preço, compensando a menor competitividade em outras áreas.
No exemplo, a moeda aqui teria que valer 1,5 da moeda de lá para equiparar os custos.
Depois, à medida que vai se melhorando custos fiscais, logística e demais custos, o câmbio modifica-se, para se adaptar ao novo quadro de competitividade.
Dia desses, o respeitado Ilan Goldjan – economista-chefe do Itaú –, a quem injustamente dediquei minha primeira menção aos “cabeças de planilha”, fez um apanhado dos princípios econômicos a vigorar daqui para frente.
Sugiro que inclua a lei da oferta e da procura. É simplesinha, mas foi esquecida pelos cabeções da vida.
